Machado soube representar em suas obras tudo o que ocorria em uma época de crise, miséria, enfim, um cotidiano que fazia parte de sua vida, pois, como já dissemos, por ser negro, sofreu na pele o preconceito e a discriminação de um povo preconceituoso e racista: (Texto V)
É importante ressaltar aos leitores menos iniciados que Machado é considerado o ficcionista mais expressivo da prosa realista da literatura brasileira ou que ele talvez seja o primeiro escritor brasileiro a conquistar um sentindo universal quando trata das contradições da natureza humana. Sabemos que ele era considerado um pessimista corrosivo que desacreditava do universo e das relações humanas. Um dos grandes escritores brasileiros, Mário de Andrade (apud MARINHO, 2008), fala na Revista ponta do lápis sobre Machado em tom de confissão: (Texto VI)
Machado de Assis continua sendo o maior escritor de toda literatura brasileira. Ele buscava sempre elementos do cotidiano para abordar nos seus contos, romances e crônicas. E, de fato, era através deles, muito se fez para que mudasse a forma de as pessoas reagirem
Machado de Assis, como grande conhecedor dos clássicos universais, se interessava por temas sociais, tendo um enfoque maior na elite brasileira. Uma de suas particularidades é o envolvimento da psicologia feminina nas suas obras de maior impacto nacional, contrastando com a realidade da sociedade.
Machado compreendia muito bem essa realidade, o que se passava com a sociedade e os costumes da sua época. A artificialidade com que os homens viviam em pleno contraste com as mulheres, pois essas tinham uma família e uma casa para cuidar, mostrando a submissão delas e o machismo que marcava os homens da época.
Terezinha Mucci Xavier (apud RICHA, 1986, p.31) esclarece que os principais atributos do papel feminino que predominaram no século XIX foram a passividade, a dependência e a emocionalidade "No que se refere aos parâmetros exigidos como ideais para a mulher tradicional (...) ressalta, o amor, o casamento, a virgindade, a modéstia, a submissão voluntária. Esses foram os valores que a civilização liberal cristão-burguesa ofereceu à mulher" (XAVIER apud RICHA, 1986, p.31).
A mulher, como os escravos, sempre foi alvo de preconceito e isso pendura por décadas. No conto "Mariana", veremos a dificuldade de sobrevivência psicológica de uma mulher escrava que se apaixona por uma homem branco e liberta-se somente quando toma ela mesma uma decisão inexorável: morrer
Marianas brasileiras
É importante lembrarmos o percurso da luta das mulheres para garantir a sua estabilidade diante da sociedade. O texto "Quem sou eu?", de autoria de Angélica Monteiro e Guaraciaba Leal, transmite a luta da mulher por várias décadas pelo bem estar de todas, não importando a "raça" ou "cor", mas a é luta conjunta para o que seja o melhor da humanidade: (Texto VII)
A escritura
Esse texto pode ser considerado um "hino", uma resposta de todas as mulheres durante o seu percurso histórico para a evolução e igualdade no desenvolvimento das classes sociais brasileiras na luta pela liberdade, para conquistar o seu espaço na sociedade.
Na atualidade, as mulheres negras têm ganhando espaço nas diversas profissões, como na política, literatura, mídia etc. É um avanço para a mulher "moderna", para que possamos competir de igual com o homem. São séculos e décadas que a mulher caminha para garantir a sua liberdade e ter "voz" ativa em suas atitudes diante da sociedade.
Podemos ver que a mídia tem contribuído para que a mulher possa mostrar altivez diante do que é posto à sua frente: negócios empresariais, política, trabalho em geral. Isso tem demonstrado que a mulher também sabe realizar o seu papel, não importando a sua etnia.
Simone de Beauvoir foi uma mulher corajosa que escreveu sobre o comportamento da mulher e do homem, com ideias que causaram escândalos para muitos conservadores da sua época. Imagine para uma mulher seguir em frente com a sua literatura, sem medo de sofrer qualquer preconceito por quebrar paradigmas indeléveis de uma sociedade.
Podemos perceber que, já no século XVIII, na luta contra a escravidão e pela liberdade, registrou-se a presença de lideranças femininas. Destacando-se Tereza, no Quilombo de Quariterê, em Mato Grosso e Zeferina, no Quilombo de Urubu, na Bahia. Felicidade, Ludovina, Germana e Tereza participaram da revolta das armações de pesca em Tapoã, também na Bahia.
As bandeiras
Embora o foco central da "A confederação do Equador" (1817) fosse a província de Pernambuco, em outros estados do Nordeste sua penetração se fez notar. No Ceará, por exemplo, que contou com a presença de outras mulheres comprometidas com a causa da liberdade e da independência: Bárbara de Alencar e Ana Lins são algumas referências dessa época. A primeira sendo avó do escritor José de Alencar, que foi um antecessor de Machado de Assis, sofreu as torturas por lutar pela igualdade de valores na sociedade.
No Rio grande do Norte, no nordeste brasileiro, tivemos a escritora Nísia Floresta que denunciou a ignorância em que se mantinham as meninas e defendia uma educação para mulheres, que, segundo ela, tinham direito a uma educação igualitária. Depois de muitas lutas, podemos presenciar uma grande vitória para todos que é o marco do centenário da Abolição da Escravatura: (Texto VIII)
Podemos perceber que a mulher conseguiu muitas conquistas, neste centenário da libertação dos escravos, embora haja muito ainda a conquistar. Apesar de todo o progresso, ela continua a buscar os seus direitos como cidadã, não importando de fato, a etnia, e sim que todas tenham os seus direitos iguais.
Um direito que a mulher conquistou nestes últimos anos foi à lei sancionada pelo governo no ano de 2006, chamada de "Lei Maria da Penha", nome em homenagem a mulher que sofreu maltratos, por muito tempo, do seu companheiro, deixando-lhe paraplégica. Mas ainda não é o suficiente, é apenas o começo para que o crime contra a mulher não permaneça impune à violência doméstica.
Apesar dos avanços e conquistas, a mulher ainda tem muitas batalhas pra conquistar cada vez mais seu espaço e mostrar que é capaz e competente, seja em qual profissão escolher, ou seja, qual for a cor de sua pele.
Trechos
TEXTO VMachado dava mostras de possuir aguda consciência, ética e estética, do que era a sua (e alheia) missão literária. Creio não haver perigo de cair na apologia gratuita,que raros são os escritores que levaram a tal ponto a reflexão em torno de segredos e dos deveres impostos pelo seu ofício, e tentaram segui-los fielmente.(MOISÉS, 2001, p.37).
TEXTO VITenho pelo gênio dele uma enorme admiração, pela obra dele um fervoroso culto,mas [...]Eu pergunto, leitor, pra que respondas ao segredo da tua consciência: amas Machado de Assis?[...] E esta inquietação me melancoliza. (MARINHO, 2008, p.21)
TEXTO VII
Venho das terras negras. Meu suor regou canaviais, garimpos e campos. Apanhei e sangrei. Mas não me submeti. Fui quilombola.
Venho também de outras plagas e de outros mares. Fui mãe, esposa, irmã, freira e prostituta, senhora de escravos e escrava.
Venho da raça vermelha potiguar de Clara Camarão, dos idos do século XVII, na leitura de alguns, a primeira feminista brasileira.
Venho de um tempo em que as mulheres sequer escreviam ou recebiam instrução formal. Sou filha da submissão.
Tive nas mãos o poder da vida. Fui curandeira e parteira. Fui vítima da Inquisição.
Venho de casamentos arranjados e maridos impostos. Venho do tempo da tirania masculina, quanto às mulheres serviam para criar os cidadãos, mas a elas era negado o direito a cidadania.
Lutei contra a escravatura e me fiz guerreira: branca, índia e negra.
((MONTEIRO& LEAL, 1998, p. 7-8)
TEXTO VIIIEm 1988, cinco mil mulheres em passeata comemoram os cem anos de abolição negra: "Sem Abolição". Apalavra de ordem reafirmava: "é negra, é branca, é velha ou é moça. Estamos todas juntas construindo nossa força. (MONTEIRO & LEAL, 1998,p.28). (Grifo do próprio texto)
Saiba maisASSIS, Machado de. Mariana. In Obra Completa, vol. II Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis: historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
MOISÉS, Maussaud. Ficção e Utopia. São Paulo, Cultrix, 2001.
MONTEIRO Angélica e LEAL Guaraciaba B. In: Mulher; da luta e dos direitos. Brasília: Coleção Brasil, Instituto Teotônio Vilela. 1998.
RICHA, Ana Lúcia Guimarães. As personagens femininas nos primeiros contos de Machado de Assis. 2006. Disponível em:
http://www.idelberavelar.com/abralic/txt_24.pdf.2006. Acesso em: 20/11/09