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sábado, 29 de setembro de 2012

Lua

Foto: Margleice Pimenta 
O brilho do sol cede lugar para o seu amor-irmã; 
ela surge entre as palmeiras. 

Um canto derramado de sutilezas que aquecem os
eternos enamorados por essa bela donzela da noite: a lua
. 

Margleice Pimenta

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O SOL DE CADA COISA (BATISTA DE LIMA)




Batista de Lima é,  na concepção de Schiller, um  ''poeta sentimental'', pois, ''pratica uma poesia de caráter reflexivo, filosoficamente comprometida com seus próprios meios de expressão e realização''. Neste novo livro, sobretudo, ele filosofa, silencia, perscruta, recorda, celebra, faz declarações de amor. brinca com as palavras, seduze-as, apascenta-as e confirma seu nome na poesia cearense contemporânea. Suas múltiplas vozes e não apenas domam os relâmpagos, mas acendem as luzes intemporais do sol invisível de cada coisa e abrem portas para celebrar a vida! 

Prefácio de 'O Sol de Cada Coisa' 
Aíla Sampaio
Professora, escritora e  poetisa. 


                            Foto: Margleice Pimenta 
O sol de cada coisa 

Há um sol
que se esconde
em cada coisa 

Há um sol
que se anuncia 
antes do sol 

Sol e sal 
sangram poesia 
pelos poros do poema 

Batista de Lima (In: O SOL DE CADA COISA, 2008)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ensaio - Hermínia Lima




                                                   Profa.Hermínia Lima 



ENSAIO

A musa: em Batista de Lima

22.09.2012

Dizer algo sobre O sol de cada coisa, o décimo livro de Batista de Lima, é tarefa que deleita e que aflige

Tentar verbalizar ideias sobre os poemas deste livro é viver o paradoxo de querer calar e só sorver, com a subjetividade e o sentimento, o néctar que se derrama dos versos e, ao mesmo tempo, é viver a provocação de debruçar-se sobre a obra, munida com as armas da leitura técnica, para iniciar árdua e minuciosa análise sobre as infindas possibilidades que os versos nos ofertam. Sobre as infindas possibilidades ofertadas pelos versos de Batista, leiamos, a título de introdução deste diálogo, o poema Dúvida, que abre a primeira seção do livro, sob o título: Essa coisa de viver: (Texto I)

E assim me sinto, com panos poucos para cobrir tanto dizer. Nesse enlevo, caminhar sob O sol de cada coisa é deleite pelo prazer do contato macio e suave com a superfície sedosa do tecido poético que veste esta produção lírica do Mestre da Mangabeira; mas, ao mesmo tempo, é aflição pela vontade reprimida de comentar o livro inteiro, parte a parte, texto a texto, verso a verso, palavra a palavra, embora sabendo que isso tornaria quilométrica a escrita desta leitura. Eis, a seguir, pequena amostra do sedoso tecido poético ao qual me referi há pouco, segunda estrofe do poema Ao sopé de mim: (Texto II)

As duas faces
Diante do impasse anunciado, entre o deleite e a aflição, após idas e vindas desassossegadas pelos volteios e veredas do sol de cada coisa, dei as mãos ao domador de relâmpagos que habita a obra e, com ele, caminhei sob as chuvas de abril que molham os versos desse Sol, seguindo rumo às raízes fincadas nas páginas do livro, para explorar essa coisa de viver, essa coisa de viver a poesia de Batista de Lima.

Nessa aventura, deixei para trás as raízes, acalmei o meu desassossego e me deixei guiar pelo domador, embrenhando-me nos versos em busca do sol que clareia cada coisa, cada palavra, cada verso desse universo. Assim, deixando de lado os aportes teóricos, optei por fazer uma apreciação estética livre, movida pelo prazer da leitura, não se importando, portanto, com uma teoria que a fundamente. E nenhuma teoria se faz necessária para que possamos apreciar a beleza de um poema bem gestado, como Retorno ao mais puro olhar: (Texto III)

A mulher

Não falarei aqui de tantas coisas e tantos sois encontrados. Escolhi destacar um sol apenas: a mulher. Uma imagem fulgurante que habita a palavra de Batista neste livro. Refiro-me à imagem do feminino que se materializa nas partes da obra, em especial, no Desassossego. Uma personagem que surge e salta de poema para poema, ora uma, ora várias. É, pois, este o nosso intento: capturar essa imagem e apresentar aqui a representação artística de um perfil feminino que se cristaliza nas páginas da obra. O poema Desassossego, que nomeia a terceira parte do livro, legitima a leitura em busca desta mulher que, muitas vezes, nem se mostra explicitamente, apenas se faz desejada e surge, nas páginas do livro, pelo viés do desejo daquele que fala: (Texto IV)

A imagem de mulher que o poeta constrói em seus versos é uma mulher-múltipla ou múltipla-mulher que se revela numa sequência de imagens sinestésicas, como: olhar de clarim, pele que poreja rosa e carmim, doce pêra, alimento, mulher música que se espreguiça em pauta antiga, mulher também movimento, mulher-mergulho, desassossego, mulher-moinho de um poeta que se diz Quixote, mulher Maria que o levou e o perdeu... Exemplo desta imagem feminina se revela através do conceito de saudade que o poeta tenta formular no afã de definir a falta - Saudade: (Texto V)
Trechos

TEXTO I

Não sei com que roupa
Vou vestir o meu dizer
palavras são panos poucos
a cobrir tantos abismos
TEXTO II

Olhar as coisas em seus lugares
a sensibilidade da árvore
na tranquilidade
da noite enluarada
a cidade dormindo na madrugada
e o mar coçando manhoso
suas costas de acalanto.
TEXTO III
Depois de muitos verões/ aprendi a chover/ lagrimáguas/ sangue e seiva/ Tatu na toca sempre fui/ João-de-barro/ João-sem-barro/ depois de muitos trovões/ minhas paredes cederam/ O homem é um açude/ ventura é sangrar/ chorar é preciso/ Quando perguntei/ por mim/ ninguém respondeu/ ninguém soube responder/ ninguém soube quem era/ o amestrador de palavras/ o cultivador de fantasmas/ o guardião dos pardais/ ninguém disse conhecer/ o que restava apenas/ era um olhar de espanto/ a alegria das enchentes/ na sangria dos açudes/ no úbere das vacas leiteiras/ na véspera da parição/ quando perguntei por mim/ mostraram o adubo espalhado/ pelos caminhos que andei andando/ meu pai esculpido distante/ numa pedreira/ minha mãe impressa/ na lâmina escura da água/ do açude do pé da serra.

TEXTO IV

Cura-me desta enfermidade/ que é a vida/ envenena-me de esperança/ iludindo-me a cada instante/ para que eu transporte/ este grande fardo/ Enlouquece-me ao amanhecer/ para que nele não se instale/ o crepúsculo que se debruça/ no meu caminho./ Que meu desassossego seja a minha herança/ meu transporte e porto de chegada/ e em teu coração/ me esconda da tempestade/ abre-te pois em portas/ que eu estou de chegada/ Mas não deixes no entanto me achegar/ conserva-me ao longe e enfermo/ de paixão, loucura e mal-estar/ para que eu morra/ de viver me estranhando/ por saborear-me em ti eternamente.

TEXTO V

Saudade é tua presença estando ausente/ é este poço seco é este abismo/ no meu passo próximo esculpido/ Saudade é o chapéu do meu avô/ com as abas pandas de procura/ o sorriso de minha avó num cafuné dilatado/ Saudade é teu olhar de serra ao longe/ lá onde o sol brinca de se esconder/ e a chuva é súplica de alvíssaras/Saudade é a voz do teu falar/ que se negou a te acompanhar/ é essa fome de morrer/ por não viver no teu viver/ Saudade é um conteúdo sem continente/ uma paisagem sem ter quem olhe/ um olhar de um farol sem luz/ saudade é um poema que se reduz..
FIQUE POR DENTRO
Breves noções acerca do lirismo

De acordo com Massaud Moisés, em seu "Dicionário de termos literários" (São Paulo: Cultrix, 1974), a poesia lírica ser revela como sendo a poesia do eu, isto é, a expressão de uma confissão ou, ainda, a poesia da emoção. Desse modo, através da confissão de estados d´alma, de sensações anímicas, o poeta comunica ao leitor sentimentos que dizem respeito às pessoas como um todo. O tom emocional dessa poesia explicaria, assim, a sua intrínseca relação com a música, pois, esta, meramente sonora, parece traduzir os contornos íntimos e difusos do poeta, infensos ao vocabulário comum. Nesse contexto, a presença da metáfora é um dos recursos por que o poeta visa à expressão de conteúdos vagos da subjetividade sem lhes alterar a natureza. As palavras e as notas musicais se equivalem, num mundo vago, incorpóreo.
HERMÍNIA LIMA
COLABORADORA*
Professora da Unifor

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Tudo passa...


Naufrágio do SS San Francisco - Nathaniel Currier, 1854

Tudo passa ou meramente fica adormecido em algum lugar do passado na memória. Como um despertar desses sonhos 'fantásticos' e, vivenciados em alto-mar com ondas gigantes que batem na âncora do navio...Agora, esperamos essa maré baixar, e seguir os nossos rumos para um futuro que nos reserva cheio de surpresas. Ah, mais isso não é tudo, é como esperar a chegada da primavera para vos alegrar a gratidão que a vida nos oferece. 

Margleice Pimenta

sábado, 15 de setembro de 2012

P I M E N T A

Foto: Marg.Pimenta

Olhos vivos quando se deparar com a famosa 'pimenta' de sabor picante. Sua essência contra olhares negativos, e purificando todo o ambiente com suas energias positivas. E, sua cor vermelha que desperta fortes emoções ao coração...

M.Pimenta

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ballerina






Il corpo che balla, 
sempre con movimenti 
spettacolari che gira, gira, gira...

Il corpo che balla, 
che fai ricordare un mondo 
fantastico come dei racconti di fate...

Il corpo che balla,
e' favoloso vivere questa magia 
dal mondo che è essere una ballerina...

Margleice Pimenta

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Dica de Leitura por: Aíla Sampaio


A História do Cerco de Lisboa (1989) é um romance do escritor português José Saramago, que une verdade e ficção, em duas narrativas simuntâneas e ligadas. Inicialmente, se conhece o revisor de livros Raimundo, cuja primeira fala se dá em torno de um termo usado por revisores, "deleatur", por causa da revisão de um livro sobre a história do cerco de Lisboa pelos portugueses, na época em que a cidade era ocupada pelos mouros. Esse fato histórico se deu no século XII, e o livro
 em questão seria mais um a contar esse importante momento da história de Portugal.
Entretanto, a história do cerco de Lisboa começa a enveredar por um caminho diferente quando Raimundo, numa noite de estranha inquietação, resolve inserir um "não" em um trecho do livro. Trata-se do momento em que os cruzados iria decidir apoiar as tropas portuguesas no cerco sa capital lusa. A história conta que eles disseram "sim", mas, na revisão de Raimundo, o termo é trocado por um" não". A troca passa desapercebida e o livro vai para a impressão. O erro só é descoberto depois de algum tempo. A editora responsável decide não demitir Raimundo, mas contrata uma supervisora para gerir a equipe de revisores. Ela proõe que Raimundo escreva um livro de ficção, contando como seria a hsitória caso houvesse acontecido a negativa dos cruzados.
A história passa a ser um relato histórico, com pitadas de romance. Por outro lado, Raimundo e Sara iniciam um amor maduro, que se desenvolve no decorrer da história.

domingo, 9 de setembro de 2012

Convite da Exposição: Ricardo Schmitt - DOCUMENTA

Exposição: Ricardo Schmitt - DOCUMENTA



Serviço:
Exposição fotográfica Ricardo Schmitt – Documenta
De 10/09 a 31/10
Local: Galeria Antônio Bandeira
Endereço: Rua Conde D’Eu, 560, Centro – Centro de Referência do Professor
Horário: De segunda à sexta-feira, de 9h às 18h. Aos sábados, de 9h às 13h.
Site: http://www.ricardoschmittdocumenta.com.br/

Mais informações com a assessora de comunicação Helena Félix, através do telefone (85)9993.4920 e do e-mail pontualcomunicacao@gmail.com
 


Site: http://www.ricardoschmittdocumenta.com.br/


EXPOSIÇÃO REMEMORA 44 ANOS DE CARREIRA DO FOTÓGRAFO RICARDO SCHMITT 
por: Helena Félix, Quarta, 5 de Setembro de 2012 às 09:44 ·

''Com 44 anos de carreira, o carioca que escolheu o Ceará como lar, Ricardo Schmitt, rememora sua trajetória profissional e fatos marcantes na história do país registrados através das suas lentes na exposição Ricardo Schmitt - Documenta. Serão mais de 40 fotografias expos
tas na galeria Antônio Bandeira, localizada no Centro de Referência do Professor, de 10 de setembro até o dia 31 de outubro. No dia da abertura, haverá coquetel para convidados a partir das 19h.

A exposição é o resultado do prêmio do Edital das Artes 2010, da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) e conta com a curadoria da Lumiar Comunicação e Consultoria. “Nosso objetivo é documentar o trabalho de Ricardo Schmitt, nome importante na consolidação da fotografia em Fortaleza, principalmente nas décadas de 70 e 80. Ele atuou de forma incisiva no fotojornalismo e na moda, além da publicidade, alcançando penetração na mídia impressa do Ceará e do eixo Rio-São Paulo”, afirma a coordenadora da Lumiar, Dora Freitas.

Contando com um acervo de cerca de 200 mil imagens, Schmitt conta que o trabalho que resolveu mostrar nessa exposição tem pouco a ver com a beleza fotográfica. No foco, imagens que retratam fatos históricos, personagens relevantes na esfera política e social brasileira, mas revelam também o fazer jornalístico de uma época marcada por grandes desafios.

“Quando comecei a trabalhar no Ceará, os jornais e agências não tinham grandes e modernos estúdios, principalmente por aqui. Viajava pelo sertão e pelas capitais nordestinas de carro e os filmes fotográficos sofriam os efeitos do calor. A revelação era feita no Rio e em SP, pelos veículos de comunicação para os quais prestava serviço. Então, os filmes seguiam por malotes ou por avião, sempre numa luta contra o tempo para chegar no prazo do fechamento”, relembra o fotógrafo.

Enquanto Schmitt prepara um projeto para digitalizar o seu acervo e arquivar no Museu da Imagem e do Som (MIS), seu trabalho já está sendo divulgado através do site http://www.ricardoschmittdocumenta.com.br/.

Sobre Ricardo Schmitt – Quando saiu da casa dos pais aos 14 anos, no Rio Grande do Sul, para ganhar o mundo, Ricardo não tinha ideia de que rumo a sua vida tomaria. Seguiu, aos 16 anos para o Rio de Janeiro, sua cidade natal, onde reencontrou o irmão José Gentil. Renomado fotógrafo na área de eventos, ele já tinha um grande estúdio e foi lá que Ricardo Schmitt começou a trabalhar, em 1968, a princípio como serviços gerais.

Em seis meses, ele já estava atuando como assistente de fotografia e se arriscando em alguns trabalhos por conta própria. “Meu irmão me deu uma profissão”, diz agradecido. Depois de alguns cursos na área e de um breve estágio no jornal O Estado de São Paulo, deu início à sua carreira no fotojornalismo com a contratação pela revista Manchete em 1970, onde permaneceu até 1974.

Surge então a primeira oportunidade em publicidade, como freelancer da Manchete em Manaus (AM), mercado promissor à época por conta da zona franca. Depois de 10 meses, retorna ao Rio de Janeiro com equipamentos de ponta e volta a trabalhar com o irmão. Os contatos acabaram por render até uma capa de disco de Artur Moreira Lima, além de fotos para Ney Matogrosso e Lenny Day, grandes nomes da música.

Em 75 foi contratado por agência em Belém (PA), a Mendes Publicidade, que apesar da distância do eixo Rio-SP, era reconhecida dentro e fora do país. “Implantei o laboratório e o estúdio fotográfico, fiz vários trabalhos interessantes e foi por lá que fiz os primeiros contatos com profissionais do Ceará”, conta.

Foi assim que Schmitt chegou à Fortaleza, em 1977, para montar o laboratório e o estúdio da Mark Propaganda. Vislumbrando um mercado totalmente novo, em 78 realizou visitas aos veículos de comunicação de São Paulo oferecendo seus serviços como freelancer e já retornou com uma pauta sobre Padre Cícero para os encartes da Editora Abril intitulados “Nosso Século”.

Através desse trabalho, conheceu o historiador e jornalista cearense Nirez, que rendeu uma nova pauta, agora para a revista Veja, publicação para a qual prestou serviço durante 14 anos e onde foram publicadas mais de 600 fotos de sua autoria.

Em 84, Schmitt abre a agência de fotojornalismo Reflex em Fortaleza, situada no Edifício Casablanca, na Av. Santos Dumont, que mais tarde iria sediar também editoras e revistas de fora do Estado interessadas no mercado em plena expansão. Um dos principais produtos para qual a Reflex colaborava era a Revista Moda Quente, dirigida por Wania Dummar e redigida pelo jornalista Ivonilo Praciano, que incrementou o mercado de moda no Ceará e era reconhecida pela sua qualidade no Sudeste. Com o aquecimento dos negócios e essa vitrine para fora do Ceará, "as editoras de moda do país passaram a dar maior atenção ao que era produzido aqui. Nesta leva, multiplicaram-se os editoriais para Moda Registrada, de Maria Helena Castilho - a maior autoridade na época - Toda Moda, Moda Brasil, Etiqueta, Claudia Moda, Domingo JB e Desfile, somente para citar alguns veículos. Foi assim que o mercado se consolidou e proporcionou muito trabalho para o pessoal local", relembra o fotógrafo.

Além da moda, a expansão da indústria e do comércio no Estado, a seca nordestina e as chuvas foram fatos que marcaram as décadas de 70 e 80, atraindo a atenção do resto do país. Todos esses acontecimentos foram registrados pela Reflex, que reuniu em seu portfólio clientes como Veja, O Estado e a Folha de São Paulo, O Povo e Diário do Nordeste, encerrando as suas atividades 26 anos depois de sua inauguração, em 2008.''

Beija-flor



Foto: Margleice Pimenta

Com o seu canto sutil 
e ritmo acelerado,
com voo encantador
que sempre paira no ar, 
o beija-flor se embeleza 


e, com o seu ardil,
busca o seu néctar...
Viaja pelo mundo afora
de flor em flor;
e se sente um nobre
para um amor conquistar


Margleice Pimenta

A despedida

(Imagens do CLIPOEMA ''A despedida'' de Aíla Sampaio. Editado pelo Programa 'Papo Literário' TVCeará).


Desfiz as malas e a viagem. 
É longe demais o teu destino 
para quem tem pressa 

Sigo outra rota, 

vou por outro caminho 

o amanhã não existe 

a não ser no desejo de continuar 
a estrada que dá no presente 
com suas curvas e abismos 

É hoje o momento. É agora o lugar. 

Se não vens, vou sozinha: 
a carne de que é feito o tempo 
é perecível como a armadura do corpo 
já não posso esperar.

AílaSampaio


sábado, 1 de setembro de 2012

ENSAIO - Sevilha andando: a mulher na lírica moderna Aíla Sampaio (11.08.2012)

Ensaio no Caderno LER do Diário do Nordeste da amiga/professora Aíla Sampaio sobre o poeta pernambucano João Cabral de melo Neto. 

Sevilha andando: a mulher na lírica moderna

'Este ensaio faz uma análise do livro Sevilha andando, de João Cabral de Melo Neto, partindo do princípio de que o título da obra apresenta uma metáfora "in absentia" cujo referente evocado é a mulher'

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1168962

Este ensaio faz uma análise do livro Sevilha andando, de João Cabral de Melo Neto, partindo do princípio de que o título da obra apresenta uma metáfora "in absentia" cujo referente evocado é a mulher
Procura-se, nos poemas que compõem o volume, dados que confirmem o termo ausente, aqui sugerido, a fim de comprovar se, através do nome da cidade - Sevilha - sobre o qual recai a atenção imediata do leitor, o poeta celebra em versos a mulher idealizada.

Introdução
Embora nas obras de João Cabral a forma predomine sobre o conteúdo, fazendo aflorar uma poesia iminentemente cerebral, podemos sentir em Sevilha andando a inserção de uma sensualidade sutil já ensaiada nas entrelinhas de Uma faca só lâmina - livro que, tendo como indicação o subtítulo "Serventia das idéias fixas", transparece uma obsessão - obsessão essa que, segundo Marly de Oliveira (1994 p.19) "é sobretudo uma ausência, que deve ser preenchida e, muito provavelmente, de natureza amorosa".

Como assinala Hugo Friedrich (1991 p.211) a respeito da lírica moderna, "Quem é capaz de ouvir, percebe nesta lírica um amor duro, que quer permanecer intacto", um amor que está longe de talhar os versos lacrimosos do Romantismo, mas que pode estar embutido nas sugestividades ambíguas através da arte e do efeito da técnica; e o que não falta na poética de Cabral é a linguagem enxuta proveniente da experiência exaustiva com o manejo das palavras.

A metáfora do título
De acordo com Aristóteles (apud Harries, 1992 p.78 "a metáfora consiste em dar à coisa um nome que pertence a outra coisa". Implica, consequentemente, uma nomeação falha, que conduz um movimento de interpretação só concluído quando o termo metafórico é substituído por uma forma mais clara para o entendimento. A lírica moderna, por sua vez, preza a criação de obras que desencoragem a interpretação. Archibald Macleish (apud HARRIES, 1992 pp.80-1) diz que o poema "não deveria significar, mas ser" - pensamento com o qual comunga Valèry (idem p.81) na sua busca pelo estado puramente ideal do poema. É, porém, inegável que o poema aponta para além de si mesmo; ele nunca será suficientemente puro, "suas palavras sempre trarão traços de música sensual da natureza que o poeta não consegue silenciar ao ansiar por uma eternidade fugidia" (HARRIES, 1992 p.86). E, como nos diz Kant (apud HARRIES, 1992 p.81) na Crítica do Juízo, toda obra de arte acaba comportando um sentido; para se tornar pura, ela teria que se negar enquanto obra de arte. A verdade é que se podem perceber significações várias, latentes em símbolos e figuras de linguagem, como se o valor do poema estivesse, assim, no apuro exigido do leitor na leitura subjacente.

Além da linguagem
De acordo com Karsten Harries (1992 p.87), a metáfora implica ausência, pois ela, que é mais do que a abreviação de uma linguagem direta, acena para aquilo que transcende a linguagem. Com base nesta concepção e concordando com a existência da referencialidade na obra de arte, sugerimos que o título da obra - Sevilha andando - encerra uma metáfora, cujo grau de apresentação é "in absentia". Há um termo ausente, um referente que é evocado. Feita a leitura dos poemas que compõem o volume, observamos que o título sintetiza a obra e que o que há de essencial é a objetivação da mulher através da cidade Sevilha, que foi eleita pelo poeta como ideal. Façamos a seguinte formulação: Sevilha, uma mulher andando; Sevilha é mulher como a mulher é Sevilha. Percebemos uma metáfora significativa por decorrer de uma espécie de proximidade semântica obtida entre termos, apesar do distanciamento literal. Segundo Paul Ricoeur, (1992 p. 148), "a similaridade não é nada mais do que essa aproximação que revela um parentesco entre idéias heterogêneas". No domínio das conotações, mulher e cidade passam a ter uma estreita relação, havendo, de certo modo, uma interseção sêmica entre o grau zero e o termo figurado. No sintagma Sevilha andando, temos uma comparação implícita - comparando e comparado terminam por confrontarem-se, dividindo semas interativos.

A estrutura
O livro Sevilha andando traz-nos 31 poemas. Ora percebemos neles uma homenagem à cidade espanhola, numa apologia que denota um forte sentimento de identificação do poeta; ora concebemos essa identificação como pretexto para, através da cidade, colocar em versos a presença da mulher que, como Sevilha, é digna do seu canto de amor. Cidade e mulher contraem uma aliança com as palavras, de modo a driblarem o discernimento do leitor. Alguns títulos de poemas sugerem, em seu bojo, uma antropomorfização ao conferirem à cidade atributos e capacidades não condizentes com a sua condição material e inanimada ("Viver Sevilha", "Cidade de nervos", "Sevilha em casa", "Sevilha andando", "Sevilha ao telefone", "Mulher cidade", "Sevilha viva"). Após a leitura superficial, descobrimos não apenas os atributos da cidade, mas que ela vai se fazendo mulher e adquirindo vida num ser objetivado. Funciona, pois, como um referencial para concretizar um intuito: a construção de poemas para a figura feminina que faz jus às qualidades fascinantes de Sevilha. E nesse jogo mulher-cidade e cidade-mulher o poeta, sem lançar mão de uma linguagem ornamentada, mostra que a lírica tecnicista pode sutilmente ultrapassar a impessoalidade. Senão vejamos em que consiste o segredo de Sevilha: (Texto I)

Leitura do poema
O fascínio que a cidade exerce está no andar da mulher, no modo particular como ela se movimenta, na dinamicidade do corpo ritmado, no manejo especial que encanta e seduz. O jeito tão peculiar da sevilhana andar, no entanto, é redimensionado numa forma de ser, que, ao ser atingida por uma não nativa, torna-a igualmente encantadora. Aí, a não sevilhana passa a ser não apenas sevilhana, mas a própria Sevilha, concentrando, assim, todas as qualidades inerentes à cidade: "Assim, não há nenhum sentido / em usar o "como" contigo: és sevilhana, não és "como a", és Sevilha, não só sua sombra". (É de mais, o símile p.634-5).

Trechos
TEXTO I
De Joaquim Romero Murube

ouvi certa vez: "De Sevilha

ninguém jamais disse tudo.

Mas espero dizê-lo um dia."

Morreste sem haver podido

a prosa daquele projeto ;

Sevilha é um estado de ser,

menos que a prosa pede o verso.

Caro amigo Joaquim Romero,

nem andaluz eu sou, sequer,

mas digo: O tudo de Sevilha

está no andar de sua mulher.

E às vezes, raro, trai Sevilha:

pude encontra-lo muito longe,

no andar de uma não sevilhana,

o tudo que buscas. Ainda? Onde?

(O segredo de Sevilha p.637-8)

FIQUE POR DENTRO
Um breve retrato do artista
João Cabral de Melo Neto (PE, 1920; RJ, 1999) despreza o lirismo tradicional, com sua musicalidade fácil e seu exagero metafórico, concebendo a poesia como uma lenta e sofrida pesquisa de expressão: uma vez escrita, a palavra é retomada, em novas sugestões, até a exaustão das imagens. Busca a palavra objetiva, exata: o geometrismo da linguagem adapta-se à aridez do solo nordestino. Em Morte e Vida Severina, narra a trajetória de um sertanejo, Severino, que abandona o agreste, expulso da terra pela seca, rumo ao literal, encontrando, nesse percurso, apenas miséria e morte. Seu universo poético assenta-se em três temáticas básicas: o Nordeste (retirantes, tradições, folclore, os engenhos, os cemitérios); a Espanha (paisagens, com destaque aos pontos comuns com o Nordeste brasileiro) e a Arte (a pintura de Miró, de Picasso, a metapoesia). Sua poesia é resultado de intensa reflexão, e seu discurso funciona como um aprendizado da linguagem das pedras , dos desafios da existência.

AÍLA SAMPAIOCOLABORADORA*
*Professora da Unifor


ENSAIO

A mulher e a cidade sob os olhos do poeta

11.08.2012




A comparação da mulher com a cidade parece não satisfazer o poeta. Ele as considera tão similares que uma é a outra, não apenas reprodução ou reflexo. E Sevilha - substantivo concreto - pode converter-se facilmente em Sevilha - adjetivo - caracterizador para enfatizar a cidade como atmosfera agradável, como a maneira de ser da mulher completa, capaz de atender às expectativas do homem que a vivencia. (Texto II)

Da atmosfera
A mulher é viva como Sevilha, emana sensações picantes como a atmosfera cítrea da cidade, densa e múltipla como um formigueiro, capaz de ser o centro de tudo, com o poder de dominar e ser o sol até onde o sol é mais impossível. A relação a dois tem como alicerce a mesma atmosfera de Sevilha: (Texto III)

Sevilha é um ideal de relação. A partir dela, os sentimentos vão sendo delineados e, se correspondida a expectativa da mulher também ideal, Sevilha, assim, se interpõe como parâmetro do envolvimento total. Notemos, outra vez, a presença do denso e do múltiplo conotado pela alusão à "formigagem", o relacionamento que adquire consistência através do constante rumor das vidas entrelaçadas, da convivência possível, porque reciprocamente benéfica.

A cal e a pele
Voltando à descoberta do segredo de Sevilha, o poeta subentende nas paredes da cidade, o corpo da mulher: "Qual o segredo de Sevilha? / Saber existir nos extremos / como levando dentro a brasa / que se reacende a qualquer tempo. / Tem a tessitura da carne / na matéria de suas paredes, / boa ao corpo que a acaricia: / que é feminina sua epiderme". Note-se a sugestão do toque dos corpos, da carícia na epiderme feminina, do amor carnal realizado (ou na iminência de).

A alusão indireta à mulher está na alusão direta à cidade que a metaforiza. Sevilha é a mulher que traz dentro de si a brasa da atração constante, de modo que a sua matéria tem a tessitura da carne, aprazível às carícias, ao fogo da conjunção dos corpos. Admitindo que a cidade, matéria rígida, não pode, como tal, reacender a brasa, lhe confere um novo atributo - o nervo: "Mas o esqueleto não pode, / ele que é rígido e de gesso, / reacender a brasa que tem dentro: / Sevilha e mais que tudo, nervo". (Cidade de nervos p.638).

Como se sabe, o nervo é um atributo dos seres vivos e animados; no que concerne à Anatomia, é o responsável pela transmissão das sensações, por via de estímulos. Assim, o poema parece trazer a mulher disfarçada em cidade, não numa cidade qualquer, mas naquela eleita como ideal.

A posse
Sevilha se transporta, transfigurada na intimidade do lar que a acolhe: "Tenho Sevilha em minha casa. / Não sou eu que está chez Sevilha. / É Sevilha em mim, minha sala. / Sevilha e tudo o que ela afia". (Sevilha em casa p.638)

A sensação de ter alcançado o ideal se configura na posse de Sevilha, que agora esta ao alcance da mão. Sevilha-mulher penetra todo o homem numa invasão plena, condutora do fascínio peculiar à cidade. E, tão íntima, Sevilha se faz carne (mulher) e se deixa habitar (possuir): " Tenho Sevilha em minha cama, / eis que Sevilha se faz carne, / eis-me habitando Sevilha como é impossível de habitar-se". (Lições de Sevilha p.644)

O homem possui a mulher concretamente e mostra que a Sevilha-cidade é habitada de uma maneira diferente. Na posse, mulher e cidade se distinguem. O desejo de intensidade do amor partilhado se sobrepõe ao questionamento sobre o tempo da duração: "Se viver-te será curto, / como pequena e Sevilha, / que viver-te seja intenso / carregado qual nova pilha". (Mulher da Panadería p.642).

Observe-se a semelhança de sentido destes versos com os de Vinícius de Morais no "Soneto de fidelidade": "Que não seja imortal, posto que é chama/mas que seja infinito enquanto dure, vazados numa linguagem seca, menos dada ao tom romântico". Assim, a mulher se faz bússola, iluminando e direcionando o aprendizado do amor que faz a vida renascer, reacendendo o homem: (Texto IV)

Leituras
Encontrar o amor é sair da escuridão. Os inseguros primeiros passos do "voltar a ser" denotam o caminho do aprendizado dos sentimentos adormecidos que renascem; o poeta acorda para reencontrá-los no "sol negro" que metaforiza a mulher morena, tão encantadora e única como Sevilha. A cabeleira negra é sempre referida e reluz como um "farol às avessas", como se o amor fosse uma luz perceptível apenas para quem o experimenta e dimensiona a sua existência no outro ser que, igual a uma bússola, mostra a direção exata da vida.

A ideia de renascimento vem também impressa nestes versos de "Viver Sevilha" (p.636): "Só em Sevilha o corpo está / com todos os sentidos em riste / sentidos que nem se sabia, / antes de andá-la que existissem; / sentidos que fundam num só: / viver num só o que nos vive, / que nos da a mulher de Sevilha / e a cidade ou concha em que vive".

Das sugestões
Sevilha não apenas desperta os sentidos, os mantém em riste - expressão bastante sugestiva no âmbito da sexualidade. O homem atenta para as sensações corpóreas e experimenta estímulos inusitados. O corpo desperto vivencia o amor carnal e descobre na mulher a fonte de um prazer completo, desconhecido até então. O amor funde os dois seres envolvidos, unificando-os. Essa relação é somente possibilitada pela "mulher de Sevilha" e pela "cidade ou concha em que vive" - a mulher sensual, sedutora que, através do seu corpo, dá ao parceiro o acolhimento da concha e o faz, metaforicamente, passear por ele como pela cidade identicamente aconchegante. E, no último poema do livro, o poeta canta a cidade espanhola como a dizê-la que a distância física em que se encontra dela é reduzida pelo fato de ter ao seu lado a presença da mulher que, como fêmea, recria a sua sedução citadina. (Texto V)

O encanto desmesurado de Sevilha presentifica-se constantemente na vida do poeta através da mulher tão completa como mulher, como completa é a cidade em sua ótica. A afeição pela cidade espanhola e por todas as qualidades nela encontradas foram transpostas para a figura feminina que correspondeu às suas idealizações, enlevando-o numa relação plena enquanto homem - como o enlevava Sevilha-cidade numa relação sobretudo aprazível enquanto habitante.

Trechos
TEXTO II
Só com andar pode trazer

a atmosfera Sevilha, cítrea

o formigueiro em festa

que faz o vivo de Sevilha.

Ela caminha qualquer onde

como se andasse por Sevilha.

Andaria até mesmo o inferno

em mulher da Panadería.

Uma mulher que sabe ser

mulher e centro do ao redor,

capaz de na Calle Regina

ou até num claustro ser o sol.

Uma mulher que sabe ser-se

e ser Sevilha, ser sol, desafia

o ao redor, e faz do ao redor

astros de sua astronomia.

(Sevilha andando (I) p.639)

TEXTO III
Carregamos Sevilha, os dois,

quem foi e quem lá nunca foi.

que onde quer que estejamos sozinhos .nos traz Sevilha, seu dentro íntimo,

de uma casa que vai comigo.

e que invoco quando e preciso.

Então, muda todo o ambiente,

ei-nos em Sevilha, de repente,

em nosso a dois e até ouço fora

sua formigagem rumorosa.

(Sevilha de bolso p.641-2)

TEXTO IV
Acordar e voltar a ser,

re-acender num escuro cúbico;

e os primeiros passos que dou

em meu re-ser são inseguros.

Re-ser em tal escuridão

é como navegar sem bússola. .

Eu a tenho, alí, a meu lado,

num sol negro de massa escura:

que é a de tua cabeleira,

farol às avessas, sem luz,

e que me orienta a consciência

como a luz cigana que reluz.

(Sol negro p.642)

TEXTO V
Cantei mal teu ser e teu canto

e enquanto te estive, dez anos;

cantaste em mim e ainda tanto,

cantas em mim teus dois mil anos.

Cantas em mim agora quando

ausente, de vez, de teus quantos,

tenho comigo um ser e estando

que é toda Sevilha caminhando.

(Presença de Sevilha p.651)

SAIBA MAIS
BRANDÃO, Roberto de Oliveira. As figuras de linguagem. São Paulo: Ática, 1989.

CÂMARA JR., J. Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática. Petrópolis: Vozes, 1977

CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991

DUBOIS, J. et alii. Retórica geral. São Paulo: Cultrix, 1974

FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas cidades, 1991 


Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1168973