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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ensaio publicado no carderno "Cultura" do Diário do Nordeste - Fortaleza -Ce


ENSAIO (19/9/2010)1ª parte 
Atualidade de Machado de Assis
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19/9/2010 O conto "Mariana" é o objeto de estudo deste trabalho, que tenta, por meio das análises, entender um pouco sobre Machado de Assis, escritor que sempre será uma figura indispensável para o conhecimento da literatura do século XIX e de todos os tempos, já que sua visão de mundo ultrapassa os limites de várias gerações

Ele seguiu uma trajetória literária com temáticas fortes, como, por exemplo, a escravidão, tema do conto em foco. Machado de Assis apresenta os problemas da sociedade em que viveu, de forma sutil, com certa leveza, no entanto percebe-se a sua insatisfação com a situação do povo humilde que sofria preconceitos, assunto sempre presente em seus romances, contos e crônicas. Ele denuncia os maus tratos que os negros sofriam na sociedade aristocrática, embora muitos continuem achando que ele, sendo mulato, deveria ter enfocado mais, em suas obras, essas questões.

Síntese da trama

No conto "Mariana", de Machado de Assis, escrito em 1871, a personagem negra sente um grande amor pelo filho da dona da casa em que vive, mas sabe que é impossível realizar esse sentimento, por ela ser uma escrava e não pertencer à mesma social do seu amado. A única saída para ela foi cometer o suicídio, e, só assim, fazer, então, as suas próprias escolhas.

A trama que envolve o conto causa fascínio a quem o lê, pois, desde o início, o narrador leva o leitor a indagações sobre o que acontecerá com a jovem escrava apaixonada pelo Coutinho, homem boêmio, que vive de viagens à Europa, pouco se importando com o que acontece no país.

Aspectos do gênero

Machado de Assis é considerado um dos maiores romancistas brasileiros, que se destacou também como cronista e contista. Na teoria do conto, podemos perceber que existe uma diversidade de críticos e estudiosos, que fazem considerações a respeito para uma definição plausível do gênero, já que existem múltiplos resultados a seu respeito. Machado (apud GOTLIB, 2006, p. 9) afirma que, mesmo sendo "um gênero difícil, a despeito da sua aparente facilidade".

A respeito do mesmo gênero, Mário de Andrade (apud GOTLIB, 2006, p. 9) diz que tanto Maupassant, como Machado de Assis, encontraram a "forma do conto" mas, como definir o conto? O seu resultado é como "indefinível, insondável, irredutível a receitas". E como fazer para chegar até ele? Não existe uma forma pronta, é se empenhar nas leituras, para que o resultado possa ser favorável a quem se aventura e tenta desvendar os mistérios, as entrelinhas entre outros artifícios literários que surgem em tais narrativas. Como podemos ver no seguinte trecho de Gotlib: (Texto I)

De acordo com a autora, Machado de Assis, soube como ninguém dar significados à sua escrita literária; mesmo numa época em que o acesso era limitado, ele sempre encontrava uma maneira de expor as suas ideias em seus contos. Através de seus personagens, de uma forma sutil, tinha com fazia a crítica e a denúncia de uma sociedade paternalista.

Brasil escravocrata

Para Chalhoub a Lei de 1871, conhecida como a Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos nascidos a partir da data outorgada, serviu como temática para a construção de vários textos enfocando a escravidão e o preconceito do século XIX, como relata o trecho a seguir: (Texto II)

De acordo com Chalhoub, Machado de Assis, através de suas obras, pôde ver a realidade de nossa sociedade, apontando os horrores daqueles que não tinham voz nenhuma para reclamar pelos seus direitos de cidadãos. Os negros eram os que mais sofriam.

Machado de Assis era chefe da repartição, no Arquivo Nacional do Mistério da Agricultura, onde se encarregava de verificar a aplicação da Lei do Ventre Livre; seu trabalho foi, sem dúvida, favorável aos benefícios dos escravos. Como afirma Chalhoub (2003), "Ele fez o que estava ao seu alcance para interpretar as coisas de modo a beneficiar os escravos". Ele se preocupava com o destino que os escravos poderiam levar quando não pudessem servir aos seus senhores: "Machado estava inserido nas questões políticas e sociais de seu tempo. Sua literatura adquire, assim, novos sentidos se vista dessa forma" (CHALHOUB, 2003).

Machado de Assis refere-se a proprietários que manipulavam regras do fundo do governo para obter a alforria de escravos ditos "inválidos", para conseguirem fundos e serem remunerados com uma "indenização superior ao valor que conseguiriam por tais cativos ao negociá-los no mercado, além de livrar-se da obrigação de sustentar tais pessoas." (CHALHOUB, 2003). Era uma das preocupações dele, que trabalhava com afinco para assegurar aos cativos à sua liberdade e não precisarem ser humilhados por uma classe paternalista.

Rumo ao fim

A partir de 1870, teve início o progressivo declínio do Segundo Reinado. Esse declínio se relaciona com as transformações econômicas e sociais ligadas à ascensão da economia cafeeira após a metade do século XIX. Com o surto industrial, o desenvolvimento das ferrovias, a modernização, a urbanização e o desenvolvimento do trabalho livre, entre outros fatores, foram criados novos interesses, os quais o império centralizado não conseguia satisfazer. A crise do império também foi acirrada pelo isolamento político. A Abolição afastou os políticos conservadores do imperador.

Nesse contexto histórico, Machado de Assis mostra, em vários textos, os limites entre escravidão e liberdade, em um cenário senhorial e paternalista, laços de dependência pessoal, politizando eficazmente o drama do processo de emancipação dos escravos. Como diz Tufano: (Texto III)

Trechos
TEXTO IOs contos de Machado traduzem perspicazes compreensões da natureza humana, desde as mais sádicas as mais benévolas , porem nunca ingênuas. Aparecem motivadas por um interesse próprio, mais ou menos sórdido, mais ou menos desculpável. Mas, é sempre um comportamento duvidoso, que nunca é totalmente desvendado nos seus recônditos segredos e intenções . . . (GOTLIB, 2006, p. 77)

TEXTO IIO processo histórico que resultou da lei de 1871- assim como suas conseqüências - esteve no centro da concepção de romances como Helena, Iaiá Garcia, Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. Tal processo, segundo o autor, é também o núcleo de sentido no conto "Mariana". Ao escrever esse, porém, Machado não podia supor que estaria, poucos anos depois, profundamente envolvido na aplicação cotidiana da lei de 28 de setembro. (CHALHOUB, 2003, p.138)

TEXTO IIIEssa introspecção na vida humana e a profunda sondagem psicológica acabam por mostrar outra dimensão da realidade, além das aparências sociais. Machado de Assis, investigando os motivos da conduta humana, somente ver nela o egoísmo, a mentira, o interesse, a luxúria, a falsidade. Por trás dos atos aparentemente bons e honestos surgem às segundas intenções, as hipocrisias, o orgulho, a vaidade. Seu humor tinge-se então de pessimismo, de uma ironia amarga e cruel. A vida surge como um campo de batalha onde os homens lutam e procuram se destruir para gozar uns poucos momentos de prazer e satisfazer seus desejos de riqueza e ostentação. A Natureza assiste ao drama humano com indiferença e a religião não passa de uma máscara para encobrir o egoísmo dos indivíduos.(TUFANO,1979,p.73).

MARGLEICE PIMENTACOLABORADORA*
* Aluna da Unifor


ENSAIO (19/9/2010) 2ª parte 

Configurações do quadro social

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19/9/2010 
Machado retratava, pois, uma sociedade cercada de preconceitos, modismos, e mostrava que o tratamento era diferenciado entre os escravos dos engenhos. Aos recém-chegados, que quase nada entendiam de português, eram dadas tarefas mais rudes. Aos mulatos e crioulos (negros nascidos no Brasil), que, na maior parte das vezes, haviam sido criados na casa do senhor e que mais procuravam se aproximar do modelo branco, era destinada a tarefa mais fácil e melhor tratamento. Alguns escravos tinham uma vida bem melhor, como os domésticos, escolhidos entre os mais próximos do modelo de beleza branco; ou os nascidos no Brasil; ou ainda aqueles que haviam sido criados na casa senhorial ou por parentes do senhor. Mas todos eram estreitamente vigiados: os que trabalhavam no campo, pelos feitores; e os trabalhadores domésticos, pelo olhar vigilante da senhora.

Das sutilezas
A dominação que os senhores rurais nordestinos procuravam impor era do tipo paternalista. Buscava fazer do escravo um servidor, membro da grande família, "o que economizava aos proprietários os custos da vigilância, os riscos de ver atacados seus bens e pessoais", segundo Queiroz (apud CÁCERES, 1995, p 47).

Para o escravo, aceitar a dominação era uma questão de sobrevivência; quanto mais se aproximasse do mundo dos brancos, melhor para ele. E para se aproximar desse mundo, ele deveria, nas palavras de Kátia M. Queiroz, devotar ao seu senhor "humildade, obediência e fidelidade" (QUEIROZ apud CÁCERES, 1995, p.47.) O bom escravo deveria ter essas qualidades que, se não fossem conseguidas pelo paternalismo, o era pela violência física.

Joaquim Nabuco, um abolicionista contemporâneo de Machado de Assis, que atuava por uma ideologia que era a liberdade dos escravos, fazia o papel de um advogado, o escolhido para mediar toda aquela situação em que os menos favorecidos sofriam com as penalidades da escravidão que exercia no país. Os abolicionistas usavam diversos argumentos para mostrar e convencer de que a escravidão era um entrave no desenvolvimento do país, impedindo o crescimento do mercado, a evolução das técnicas produtivas que corrompiam o trabalho, a moral e a família. Alguns abolicionistas foram acusados de subversão. Vejamos o discurso no parlamento dos abolicionistas: (Texto IV)

A ideologia
As classes dos fazendeiros resistiam com argumentos pobres, visando sustentar a instituição que sabiam que estava condenada. Alguns aceitavam o fim da escravidão de forma lenta e gradual, desde que os proprietários fossem indenizados, enquanto outros fazendeiros formavam grupos armados, associações que pressionavam o governo, a igreja e a imprensa. Alguns dos grandes jornais combatiam o abolicionismo de forma declarada, outros o faziam disfarçadamente.No ano de 1871, crescia a agitação abolicionista quando foi aprovada a Lei do Ventre Livre que, para muitos, resolvia o problema da escravidão, uma vez que tornava livres os filhos de escravos nascidos a partir daquela data. A libertação, diziam, seria agora apenas uma questão de tempo. Logo após a Lei do Ventre Livre, veio a Lei dos Sexagenários que gerou acirrados debates e marcou um momento importante no processo abolicionista.

Os novos ventos
Manter a escravidão tornava-se cada vez mais difícil. As fugas e as rebeliões de negros aumentavam a cada dia. Sem alternativas, o governo resolveu-se pelo golpe final. A 13 de maio de 1888, a princesa regente, D. Isabel, assinou a Lei Áurea, declarando extinta a escravidão.

A Abolição foi uma festa realmente popular, mas a luta havia sido longa e difícil. Muitos foram mortos pelo caminho e constituem os milhares de anônimos que lutaram por ela. A Abolição, porém, não redimiu os negros que continuavam fora do mercado de trabalho e a concorrência com os europeus era muito grande. Os negros "libertos" regrediram a uma economia de subsistência e, nas cidades, passaram a viver de biscates, engrossando as fileiras dos miseráveis subempregados. Os preconceitos que a sociedade escravista havia criado, como a indolência, a ladroagem dos negros e sua inferioridade racial e cultural, até hoje continuam pesando sobre os eles. Assim, o negro tornou-se livre para, salvo raras exceções, viver na miséria e sob uma enorme opressão.

Vários proprietários foram atingidos economicamente, seus escravos foram libertos e seus donos não receberam indenizações. Suas fortunas foram abaladas, muitas de suas fazendas foram hipotecadas, eles passaram a culpar o imperador a quem acusavam de imprevidente, responsável por suas desgraças.

Esses fazendeiros se filiaram ao Partido Republicano e contribuíram para a queda da monarquia. Os ideais republicanos, reprimidos na época da independência e do período regencial, voltaram a ganhar força no plano político, a partir da dissidência no interior do Partido Liberal, em 1868. O crescimento do movimento republicano foi tomando proporções gigantescas; suas ideias cresciam em todo o país, além disso, o movimento conseguia grande penetração entre os militares em todo o país.

As consequências
A grande vitória do movimento abolicionista, em maio de 1888, estimulou a agitação republicana. O dia 13 de maio mostrou que era possível mudar o país e, com isso, o poder imperial estava disposto a fazer mudanças, não só porque achava que fossem necessárias, mas também como forma de esvaziar os argumentos da oposição republicana.

O dia 15 de novembro ficou marcado na história como o dia da proclamação da República; só aos poucos a população tomou conhecimento de que a parada militar, ocorrida pela manhã, conduzira à mudança de regime. Logo após o dia 15 de novembro, o regime lutava para consolidar-se; dois grupos adquiriram especial importância: os militares e os republicanos históricos, sendo os últimos representantes da burguesia cafeeira.

O Brasil passou por várias transformações políticas, sociais e culturais e, na questão da escravidão, foi à última nação a aboli-la, o que apenas ocorreu em 1888. No entanto, no país, o negro continuou sem oportunidades e sendo tratado como uma ´coisa´, como uma mercadoria.

Trecho
TEXTO IVEste grupo de demolidores que ora se congregam no país promovendo propaganda com o fim de abolir os escravos - dizia uma das representações - são os membros que na Rússia formaram o partido niilista, na Alemanha o socialista, assim como na Europa o comunista. Estejamos, pois, precavidos contra estes desordeiros que preferem a luta renhida e o sangue a correr em rios, a ver a questão regularmente marchando e pacificamente terminada. (CAMPOS,1991, p.150).

Um olhar sobre o a escravidão
A maioria dos escravos brasileiros era rural; e grandes distâncias separavam os imensos latifúndios, o que tornava difícil a organização de uma revolta; os escravos eram rigidamente vigiados pelos feitores. Devido ao curto tempo que passavam nos engenhos, os negros escravos não podiam desenvolver relações de amizade, conscientizar-se e formar lideranças; no entanto, os negros domésticos, quanto mais experiência tinham, melhores trabalhadores se tornavam, portanto.

A formação de lideranças também se tornava difícil pela repressão senhorial. Os negros eram considerados rebeldes, criadores de problemas, orgulhosos; os mais conscientes, logo eram punidos pelos senhores e vendidos para outros engenhos. Aos escravos só restava à fuga, quase sempre não-planejada, individual ou em pequenos grupos, em busca de um abrigo onde pudessem aspirar à liberdade, à segurança e à paz.

Eles fugiam não apenas do trabalho rude, cansativo e monótono, fugiam das injustiças, dos maus tratos e dos castigos corporais. Nessas fugas, juntavam-se a outros escravos e, com isso, criavam grupos de liderança. Na época, o número de cinco negros fugidos já formava o que chamavam de quilombos, uma espécie de moradia coletiva construída em lugares de difícil acesso, principalmente em florestas e montanhas, onde se consideravam seguros e protegidos. Os quilombolas aspiravam à liberdade e à paz com os brancos, e só atacavam quando precisavam lutar pela sua sobrevivência como: alimentos, remédios, vestimentas, armas e mulheres. No Brasil, o Quilombo dos Palmares resistiu o quanto pôde, as forças policiais pernambucanas não conseguiam vencer os negros rebeldes; a única solução das autoridades foi contratar os bandeirantes paulistas, experientes na repressão e destruição das missões jesuíticas do Sul, no entanto nem os paulistas conseguiram destruir Palmares. O Governador de Pernambuco, então, formou um poderosíssimo exército para atacar Palmares composto de pretos, mamelucos, indígenas, brancos e prisioneiros retirados da cadeia. Este foi o fim do quilombo que ainda tentou resistir. A destruição de Palmares foi uma carnificina, os atacantes não se preocupavam em capturar sobreviventes, matavam sem dó. O líder, Zumbi, conseguiu fugir com alguns companheiros e continuou resistindo até 1694 quando foi preso, assassinado e castrado. Seu corpo foi levado para Porto Calvo, onde teve a cabeça decepada, salgada e pendurada em um poste até apodrecer. Palmares entrou na história como a mais importante revolta de escravos ocorrida no Brasil e a segunda mais importante da América, só perdendo para a revolta de escravos do Haiti, onde os cativos tomaram o poder e expulsaram os colonizadores franceses.
ENSAIO (19/9/2010) 3ª parte -

Uma leitura de seres e de valores
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19/9/2010 
Machado soube representar em suas obras tudo o que ocorria em uma época de crise, miséria, enfim, um cotidiano que fazia parte de sua vida, pois, como já dissemos, por ser negro, sofreu na pele o preconceito e a discriminação de um povo preconceituoso e racista: (Texto V)

É importante ressaltar aos leitores menos iniciados que Machado é considerado o ficcionista mais expressivo da prosa realista da literatura brasileira ou que ele talvez seja o primeiro escritor brasileiro a conquistar um sentindo universal quando trata das contradições da natureza humana. Sabemos que ele era considerado um pessimista corrosivo que desacreditava do universo e das relações humanas. Um dos grandes escritores brasileiros, Mário de Andrade (apud MARINHO, 2008), fala na Revista ponta do lápis sobre Machado em tom de confissão: (Texto VI)

Machado de Assis continua sendo o maior escritor de toda literatura brasileira. Ele buscava sempre elementos do cotidiano para abordar nos seus contos, romances e crônicas. E, de fato, era através deles, muito se fez para que mudasse a forma de as pessoas reagirem

Machado de Assis, como grande conhecedor dos clássicos universais, se interessava por temas sociais, tendo um enfoque maior na elite brasileira. Uma de suas particularidades é o envolvimento da psicologia feminina nas suas obras de maior impacto nacional, contrastando com a realidade da sociedade.

Machado compreendia muito bem essa realidade, o que se passava com a sociedade e os costumes da sua época. A artificialidade com que os homens viviam em pleno contraste com as mulheres, pois essas tinham uma família e uma casa para cuidar, mostrando a submissão delas e o machismo que marcava os homens da época.

Terezinha Mucci Xavier (apud RICHA, 1986, p.31) esclarece que os principais atributos do papel feminino que predominaram no século XIX foram a passividade, a dependência e a emocionalidade "No que se refere aos parâmetros exigidos como ideais para a mulher tradicional (...) ressalta, o amor, o casamento, a virgindade, a modéstia, a submissão voluntária. Esses foram os valores que a civilização liberal cristão-burguesa ofereceu à mulher" (XAVIER apud RICHA, 1986, p.31).

A mulher, como os escravos, sempre foi alvo de preconceito e isso pendura por décadas. No conto "Mariana", veremos a dificuldade de sobrevivência psicológica de uma mulher escrava que se apaixona por uma homem branco e liberta-se somente quando toma ela mesma uma decisão inexorável: morrer

Marianas brasileiras

É importante lembrarmos o percurso da luta das mulheres para garantir a sua estabilidade diante da sociedade. O texto "Quem sou eu?", de autoria de Angélica Monteiro e Guaraciaba Leal, transmite a luta da mulher por várias décadas pelo bem estar de todas, não importando a "raça" ou "cor", mas a é luta conjunta para o que seja o melhor da humanidade: (Texto VII)

A escritura

Esse texto pode ser considerado um "hino", uma resposta de todas as mulheres durante o seu percurso histórico para a evolução e igualdade no desenvolvimento das classes sociais brasileiras na luta pela liberdade, para conquistar o seu espaço na sociedade.

Na atualidade, as mulheres negras têm ganhando espaço nas diversas profissões, como na política, literatura, mídia etc. É um avanço para a mulher "moderna", para que possamos competir de igual com o homem. São séculos e décadas que a mulher caminha para garantir a sua liberdade e ter "voz" ativa em suas atitudes diante da sociedade.

Podemos ver que a mídia tem contribuído para que a mulher possa mostrar altivez diante do que é posto à sua frente: negócios empresariais, política, trabalho em geral. Isso tem demonstrado que a mulher também sabe realizar o seu papel, não importando a sua etnia.

Simone de Beauvoir foi uma mulher corajosa que escreveu sobre o comportamento da mulher e do homem, com ideias que causaram escândalos para muitos conservadores da sua época. Imagine para uma mulher seguir em frente com a sua literatura, sem medo de sofrer qualquer preconceito por quebrar paradigmas indeléveis de uma sociedade.

Podemos perceber que, já no século XVIII, na luta contra a escravidão e pela liberdade, registrou-se a presença de lideranças femininas. Destacando-se Tereza, no Quilombo de Quariterê, em Mato Grosso e Zeferina, no Quilombo de Urubu, na Bahia. Felicidade, Ludovina, Germana e Tereza participaram da revolta das armações de pesca em Tapoã, também na Bahia.

As bandeiras

Embora o foco central da "A confederação do Equador" (1817) fosse a província de Pernambuco, em outros estados do Nordeste sua penetração se fez notar. No Ceará, por exemplo, que contou com a presença de outras mulheres comprometidas com a causa da liberdade e da independência: Bárbara de Alencar e Ana Lins são algumas referências dessa época. A primeira sendo avó do escritor José de Alencar, que foi um antecessor de Machado de Assis, sofreu as torturas por lutar pela igualdade de valores na sociedade.

No Rio grande do Norte, no nordeste brasileiro, tivemos a escritora Nísia Floresta que denunciou a ignorância em que se mantinham as meninas e defendia uma educação para mulheres, que, segundo ela, tinham direito a uma educação igualitária. Depois de muitas lutas, podemos presenciar uma grande vitória para todos que é o marco do centenário da Abolição da Escravatura: (Texto VIII)

Podemos perceber que a mulher conseguiu muitas conquistas, neste centenário da libertação dos escravos, embora haja muito ainda a conquistar. Apesar de todo o progresso, ela continua a buscar os seus direitos como cidadã, não importando de fato, a etnia, e sim que todas tenham os seus direitos iguais.

Um direito que a mulher conquistou nestes últimos anos foi à lei sancionada pelo governo no ano de 2006, chamada de "Lei Maria da Penha", nome em homenagem a mulher que sofreu maltratos, por muito tempo, do seu companheiro, deixando-lhe paraplégica. Mas ainda não é o suficiente, é apenas o começo para que o crime contra a mulher não permaneça impune à violência doméstica.

Apesar dos avanços e conquistas, a mulher ainda tem muitas batalhas pra conquistar cada vez mais seu espaço e mostrar que é capaz e competente, seja em qual profissão escolher, ou seja, qual for a cor de sua pele.

Trechos

TEXTO VMachado dava mostras de possuir aguda consciência, ética e estética, do que era a sua (e alheia) missão literária. Creio não haver perigo de cair na apologia gratuita,que raros são os escritores que levaram a tal ponto a reflexão em torno de segredos e dos deveres impostos pelo seu ofício, e tentaram segui-los fielmente.(MOISÉS, 2001, p.37).

TEXTO VITenho pelo gênio dele uma enorme admiração, pela obra dele um fervoroso culto,mas [...]Eu pergunto, leitor, pra que respondas ao segredo da tua consciência: amas Machado de Assis?[...] E esta inquietação me melancoliza. (MARINHO, 2008, p.21)

TEXTO VII
Venho das terras negras. Meu suor regou canaviais, garimpos e campos. Apanhei e sangrei. Mas não me submeti. Fui quilombola.

Venho também de outras plagas e de outros mares. Fui mãe, esposa, irmã, freira e prostituta, senhora de escravos e escrava.

Venho da raça vermelha potiguar de Clara Camarão, dos idos do século XVII, na leitura de alguns, a primeira feminista brasileira.

Venho de um tempo em que as mulheres sequer escreviam ou recebiam instrução formal. Sou filha da submissão.

Tive nas mãos o poder da vida. Fui curandeira e parteira. Fui vítima da Inquisição.

Venho de casamentos arranjados e maridos impostos. Venho do tempo da tirania masculina, quanto às mulheres serviam para criar os cidadãos, mas a elas era negado o direito a cidadania.

Lutei contra a escravatura e me fiz guerreira: branca, índia e negra.
((MONTEIRO& LEAL, 1998, p. 7-8)

TEXTO VIIIEm 1988, cinco mil mulheres em passeata comemoram os cem anos de abolição negra: "Sem Abolição". Apalavra de ordem reafirmava: "é negra, é branca, é velha ou é moça. Estamos todas juntas construindo nossa força. (MONTEIRO & LEAL, 1998,p.28). (Grifo do próprio texto)

Saiba maisASSIS, Machado de. Mariana. In Obra Completa, vol. II Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis: historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
MOISÉS, Maussaud. Ficção e Utopia. São Paulo, Cultrix, 2001.
MONTEIRO Angélica e LEAL Guaraciaba B. In: Mulher; da luta e dos direitos. Brasília: Coleção Brasil, Instituto Teotônio Vilela. 1998.
RICHA, Ana Lúcia Guimarães. As personagens femininas nos primeiros contos de Machado de Assis. 2006. Disponível em:http://www.idelberavelar.com/abralic/txt_24.pdf.2006. Acesso em: 20/11/09